A vantagem do mercado secundário

A vantagem do mercado secundário

Quando um apostador novato abre uma partida em qualquer casa de apostas, seus olhares, quase sempre, são “magneticamente” atraídos para as mesmas opções de sempre: quem vai vencer a partida (1X2), o total de gols (Over/Under) e, talvez, a linha principal do Handicap Asiático. Estes são os famosos mercados primários. São a vitrine da indústria. Sua grande popularidade se deve à simplicidade, à facilidade de compreensão (talvez com o Handicap Asiático sendo mais difícil para os mais novos) e, de maneira crucial, à sua alta liquidez.

Neste âmbito, circula-se muito dinheiro transacionado pelo mundo, permitindo que grandes apostadores e sindicatos movimentem quantias enormes, o que resulta em baixa distorção nas cotações. Contudo, a tese central deste texto é abordar que a grande oportunidade de ganho sustentável não reside nesses mercados óbvios.

Qualquer erro ou valor percebido nas odds de 1X2 de um grande jogo é atacado por um volume massivo de dinheiro “inteligente”, quase sempre de forma rápida. Esse movimento joga a cotação de volta ao seu ponto de equilíbrio, eliminando a vantagem antes que milhares de apostadores sequer a notem. O resultado são odds já justas e afiadas que, portanto, refletem uma precisão assustadora em relação às probabilidades reais do evento. Encontrar valor com frequência aqui é como tentar ser mais rápido que o mercado financeiro global.

Com isso, linhas de total de faltas, por exemplo, apesar da menor liquidez, recebem um esforço menor das bookies em concentrar-se ali. Muitas vezes são baseadas em modelos mais genéricos ou, se preferir, templates que se aplicam a todos os jogos, com ajustes manuais feitos por algum analista. Não há, portanto, o mesmo nível de sofisticação para proteger linhas que representam um risco financeiro baixo para eles.

“Ora, se a linha está errada, os sharks não vão simplesmente corrigi-la, como fazem nos mercados primários?” Sim e não. Imagine que +EV é como uma maçã. Os mercados primários são como maçãs perfeitamente doces e nutritivas que ficam no topo da árvore. Para pegá-las, você precisa de uma boa escada (um bom algoritmo/modelo) e precisa brigar contra outros colhedores profissionais. Os mercados secundários são centenas de maçãs menores e espalhadas pelos galhos mais baixos. Você também vai disputar contra outros, mas que têm escadas piores que a sua; assim, você tem alta chance de ter uma escada melhor que a deles.

Se você pensa que um dia as casas de aposta vão chegar a um patamar em que corrigirão tudo, você está enganado. Uma casa de apostas é, acima de tudo, uma empresa de gestão de risco. Seu foco principal é proteger-se onde está mais exposta. Pergunte-se, portanto: quanto custaria para a casa desenvolver, testar, implementar e manter um algoritmo de machine learning tão sharp para o mercado de “total de desarmes do lateral esquerdo do Criciúma” quanto o que ela usa para o 1X2 da final da Copa do Mundo? Agora, qual é o retorno desse investimento? Praticamente nulo. O volume total apostado nesse mercado de nicho é minúsculo. A vantagem só desapareceria se, por algum motivo, um desses mercados se tornasse tão popular quanto o de vencedor da partida. Mas, nesse exato momento, ele deixaria de ser um mercado secundário. Tornar-se-ia primário e, instantaneamente, sofreria todo o processo de esmagamento pela eficiência, perdendo seu valor.

Embora a vantagem nos mercados secundários seja real e estrutural, explorá-la traz um conjunto de desafios. A própria natureza desses mercados impõe uma barreira de escala. A sua stake, depois de certo momento, pode não ser definida pelo tamanho do seu bankroll, mas sim pelo teto que a casa oferece. Ademais, a vantagem não é óbvia. Mas, de alguma maneira, existem caminhos que a explicitam: chasing, modelagem preditiva, método comparativo etc. Você tem a liberdade de escolher uma das opções que, como tudo, têm suas vantagens e desvantagens.

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João Claudino, conhecido como Naithèn no meio, é escritor, apostador desde 2021 e entusiasta dos dados. Recentemente, dedica-se à programação para otimizar seus investimentos. Integra a SPM, um grupo membro do Vienna.

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